Renato Teixeira

Um caipira do litoral com coração douradense

Uau! Vou entrevistar um dos compositores mais importantes do Brasil. Mas foi só ele chegar à sala que percebi que, diante de mim, não estava uma celebridade, não no sentido glamoroso da palavra. Na minha frente, estava um homem brincalhão, simples e muito inteligente. Estou falando de Renato Teixeira.

Nós somos conterrâneos, ambos nascemos na baixada santista, por isso o título dessa matéria: Um caipira do litoral com coração douradense! Vou explicar melhor.

História

Renato Teixeira nasceu em Santos, litoral de São Paulo, no dia 20 de maio de 1945. Passou a infância em Ubatuba, ou seja, era menino de praia. O pai era funcionário público, a mãe dona de casa. A família tem a música no sangue, são seis gerações de músicos. Com Renato não seria diferente. “Meu pai e minha mãe tocavam violão; mas sabe como é santo de casa, ninguém queria parar para ensinar, para dar aula, então aprendi sozinho, aos nove anos comecei a tocar e compor. Escrevia sobre as belezas da cidade. Tinha boas referências musicais como por exemplo, Ari Barroso e Pixinguinha”, lembra.

Com 14 anos mudou-se pra Taubaté, no interior do Estado. No início dos anos 60, trabalhou como radialista na Rádio Difusora de Taubaté, onde entrou em contato com a música sertaneja. Em 1967, mudou-se para São Paulo, quando uma fita com suas músicas chegaram às mãos de Renato Consorte, divulgador de novos artistas. Nesse mesmo ano, sua música “Dadá Maria” estava no festival da Record, defendida por Gal Costa. No disco do festival, Renato canta junto com Gal Costa. Em 1968, Roberto Carlos grava a música “Madrasta” (parceria de Renato Teixeira com Beto Ruschel).

Queremos promover a música douradense. Tem muita gente boa, boa mesmo por aqui. Temos que parar com a visão de que só existe o eixo Rio/São Paulo. Cidade que canta é mais feliz, Dourados tem que cantar mais, tem que valorizar seus músicos
— Renato

 Sucesso

Seu sucesso veio em 1977, quando Elis Regina gravou a música “Romaria”, que divulgou o estilo pelo qual o compositor continua sendo reverenciado com suas letras bucólicas e melodias que transitam entre o caipira brasileiro e o folk americano. “A letra de Romaria veio em um momento de equívocos. Tentei fazer uma canção complexa e sofisticada e saiu uma música popular. Minha principal satisfação como autor é ter uma música minha interpretada por Elis Regina”, afirma. 

Renato acredita que o sucesso de Romaria se deve também ao fato de o romeiro ser uma marca muito forte do brasileiro. “O brasileiro é um povo de muita fé. Música e fé unem as pessoas. Todas as religiões usam a música. Música é superior a religião”. 

Parcerias

Renato é conhecido também por fazer muitas parcerias musicais. “Ninguém anda sozinho. Gosto de compor junto, faço mais letras do que músicas”, explica.

Sua parceria mais conhecida, com certeza, é com Almir Sater. Juntos os dois compuseram canções que consolidaram as carreiras de ambos, como Um Violeiro Toca e Tocando em Frente; “A parceria com Almir é um grande momento em minha história”. 

O brasileiro é um povo de muita fé. Música e fé unem as pessoas. Todas as religiões usam a música. Música é superior a religião
— Renato

Dourados

E você, leitor, deve estar se perguntando: Mas como Dourados entra nessa história? Por que no título está escrito que ele tem “coração douradense”. Aí vem uma história de amor.

Há 20 anos, Renato Teixeira veio para Dourados fazer um show. Uma fã entrou no camarim para pegar autógrafo. Foi amor à primeira vista. Começaram a namorar, durou pouco, mas dez anos depois se reencontraram e estão juntos até hoje. Essa fã, é Maria de Lourdes Gonçalves, responsável por tornar Dourados a segunda cidade do compositor. “Temos uma casa em São Paulo e um apartamento em Dourados. Vivemos de lá para cá, de cá para lá. O que mais admiro nele é a calma e o otimismo. É um homem maravilhoso para estar junto”, relata Maria. 

Renato também ficou encantado com a cidade. “As pessoas que nasceram aqui talvez estejam tão acostumadas que não percebem a beleza de Dourados. Eu sou muito ligado à arquitetura, e Dourados foi planejada; isso é encantador. Amo as árvores, os ipês, tem muita natureza que me inspira”, conta Teixeira.

O compositor contou em primeira mão para a Celebrar que já escreveu uma música sobre Dourados. Ele também está encabeçando um projeto chamado “Coletivo douradense de música”, que já reuniu 130 músicos da cidade. “Queremos promover a música douradense. Tem muita gente boa, boa mesmo por aqui. Temos que parar com a visão de que só existe o eixo Rio/São Paulo. Cidade que canta é mais feliz, Dourados tem que cantar mais, tem que valorizar seus músicos”, finaliza.  

Pingue-pongue

Um momento inesquecível: “São tantos, fica difícil escolher. Mas vou falar do dia em que nasci; afinal, se não fosse isso, não estava aqui (risos)”

Uma viagem marcante: “Cartagena, Colômbia”

Um sonho não realizado: “Já realizei todos.”

Dou risada quando: “Vejo a Escolinha do professor Raimundo.”

Trabalho para: “Música.”

Uma música especial: “Tocando em Frente.”

Três objetos sem os quais não vive: “Celular, violão, papel e caneta. (São 4, risos).”

Família é: “Tudo.”

Não vivo sem: “Dinheiro.”

Saudade: “Mãe e pai.”

Na folga eu: “Viajo para Dourados.”

Frase: “Ando devagar porque já tive pressa.”

Celebrar é: “Viver.”

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