Luiz Pedro Scalise

o arquiteto de MS que conquistou de Hollywood às Arábias

Nem precisei entrar para saber que aquela seria uma entrevista marcante. É que o escritório dele é bem peculiar, com cores e decoração diferenciadas. Ao entrar na sala, meus olhos se perderam em meio a tantos elementos. Em sua mesa, uma coleção, ou melhor, a maior coleção de canetas, lápis e afins que já vi na vida. São mais de mil unidades! Parecia que eu tinha entrado em alguma cena de filme. E não é que pode ser mesmo? É que nosso entrevistado já fez cenários para vários filmes, novelas e peças de teatro. 

Estou falando de Luis Pedro Scalise, o arquiteto de Mato Grosso do Sul que conquistou fama internacional por seus projetos temáticos. Ele nasceu em Florianópolis, mas cresceu e viveu boa parte da vida em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. É que a mãe dele é de Rio Brilhante,  cidade do interior do Estado, onde o pai dele foi trabalhar e a conheceu. Casaram-se e tiveram o primogênito; mais para frente, chegaram as duas irmãs. Durante nosso papo, o arquiteto comenta a todo o momento sobre a família, sobre o orgulho que tem dos pais, sobre as irmãs e sobre se considerar sul-mato-grossense. 

Foi em Campo Grande que Luis Pedro passou a infância e fez faculdade, curso escolhido pela mãe. “Eu gostava de desenhar, era um talento nato, sempre fui apaixonado por pintura; por isso queria fazer artes, mas minha mãe insistiu para que eu fizesse arquitetura”. E, como dizem, mãe sempre tem razão, tanto que já nos primeiros testes um dos seus professores notou que aquele não era um aluno comum. “O professor estava passando, olhando os trabalhos de cada aluno, quando passou pelo meu, parou, olhou e falou: <Se você concluir o curso, será referência em arquitetura para Mato Grosso do Sul. Eu nunca vi nada parecido com seu trabalho>”.

O professor tinha toda razão. Scalise se especializou em arquitetura temática. Já fez cenografia e cenário para filmes internacionais, entre eles, “Valente” da Disney. Também entrou para o time de cenógrafos da Rede Globo, criando projetos para várias novelas, entre elas, Salve Jorge, Joia Rara e Verdades Secretas. “Eu escolhi o mais difícil, que é a arquitetura temática, porque eu sou temático, nasci temático (dá risada). Arquitetura temática exige muito mais, tem que ter muita pesquisa, tem que se aprofundar na história, na época, no mundo que o cliente quer retratar”. 

Atualmente, tem escritórios em São Paulo e Dubai. Entre seus clientes, nada mais, nada menos do que Sheiks e rainhas. O primeiro cliente das Arábias foi o Sheik do Catar. “Os funcionários do Sheik fizeram uma seleção criteriosa. O arquiteto tinha que passar por várias exigências, entre elas, tinha que criar à mão todas as peças, tinha que ser tudo autoral e comprovar como o projeto, além de autoral, era exclusivo. Eu faço isso, então, fui convidado a fazer um projeto “no risco”, ou seja, se ele gostasse pagava; se não gostasse, eu ficava sem nada. Aceitei. Pesquisei sobre o Sheik e descobri que ele tinha coleção de conchas do mar, fiz uma poltrona inspirada numa concha e as almofadas eram pérolas. Ele aprovou. Fui até a embaixada e de lá pra cá entrei para o grupo dos sete arquitetos que trabalham para o Sheik”.

Pensa que acabou por aí? Que nada! Sua fama pelas arábias foi se espalhando e hoje ele atende diversos sheiks e rainhas. Entre seus trabalhos peculiares, o atual é um BOING em Dubai. 

Luis Pedro é dinâmico e inquieto, tanto que dorme apenas de duas a três horas por noite. Além da arquitetura temática e cenografia, atua em design de interiores e faz peças decorativas exclusivas para 15 fábricas do mundo inteiro. Mesmo com tanto trabalho, nunca deixou de lado o amor pela pintura; nas horas vagas, está em seu ateliê pintando. “Aliás, nessa madrugada, estava pintando uma tela de Ayrton Senna, que foi encomendada pelo Instituto Ayrton Senna”. 

O arquiteto também é dono do único restaurante dos Emirados Árabes do Brasil, que fica em Campo Grande. A decoração é inspirada em Dubai e, no cardápio, tem até ouro na comida, bebida e sobremesa. 

Scalise é um homem viajado; já foi a 172 países. Já pode dizer que viu praticamente de tudo nessa vida. Já esteve nos lugares mais luxuosos do mundo.  Por isso questionei o que é luxo para ele. “Sou uma pessoa exagerada, gosto de tudo em detalhes. Para mim, luxo não é ouro; luxo é querer uma coisa e conseguir. Por exemplo, se hoje estou com vontade de tomar água de coco e eu conseguir sentar e tomar uma água de coco, isso é um luxo. No Oriente e no Ocidente, o significado de ter ouro é diferente. Lá, ter ouro quer dizer que você conseguiu algo com muito trabalho. É resultado de tudo aquilo que você conquistou. Isso é luxo, conquistar aquilo que você quer”. 

Luis Pedro gosta das coisas luxuosas, mas afirma que também sabe viver com pouco. Eu perguntei se ele come arroz, feijão e ovo. A resposta foi a melhor. “Claro que como, desde que seja com talher de prata”, e caímos na gargalhada. 

Ping-Pong

Conheça um pouco mais sobre esse arquiteto com alma de artista e coração de ouro:

Um momento inesquecível: 

“Pode ser algo que ainda não vivi?” (Pode) “Ser reconhecido pelo meu nome, pelo trabalho, saber que meu nome se fala por si mesmo.”

Uma viagem marcante: 

“Difícil! Foram tantas! Mas vou escolher duas: Birmânia e Polinésia Francesa.”

Dou risada quando: 

“Com crianças, com a ingenuidade e a pureza das crianças.”

Trabalho para: “Ser feliz!”

Uma música especial:

“She, do filme Um lugar chamado Notting Hill. A música é linda e me marcou pois assisti ao filme no mesmo hotel em que o filme foi gravado, então, foi uma experiência muito boa.” 

Três objetos sem os quais não vivo:

“Eu não sou muito apegado a coisas, mas posso dizer que não vivo sem lápis, papel e joia.”

Família é: “Estrutura! Muita gente me pergunta por que ainda moro em Campo Grande. É por causa da minha base, da minha família. Minha família está aqui. Meu pai, minha mãe sempre fizeram tudo por mim, não quero ficar longe deles.”

Não vivo sem: “Arte.”

Saudade: “De ter vontade do que um dia eu tive.”

Na folga eu: “Quase não tenho folga, mas na folga eu pinto.”

Uma frase: “Difícil não é se libertar, é viver em liberdade.”

Celebrar é: “Estar com quem a gente gosta. Não importa se vamos brindar com champanhe ou Coca-Cola, o importante é estar com quem a gente gosta.”

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