Luis Pedro Scalise: a poesia do excesso

Entre a exuberância da arte e a força da arquitetura, o arquiteto sul-mato-grossense constrói uma estética maximalista que dialoga com o mundo

O maximalismo é mais do que um estilo: é uma declaração. Na obra de Luis Pedro Scalise, arquiteto sul-mato-grossense de reconhecimento internacional, o excesso não se esconde como exagero, mas se revela como potência criativa. Cada projeto é uma cena expandida, uma composição onde a cor, a forma e o gesto se acumulam em harmonia.

Scalise transforma ambientes em narrativas. Sua herança árabe encontra ressonância no espírito tropical e, dessa fusão, nasce uma estética que atravessa fronteiras, ocupando tanto as casas do Centro-Oeste brasileiro quanto os palcos arquitetônicos do Oriente Médio. Onde outros pregam contenção, ele vê expansão. Onde alguns buscam silêncio, ele oferece intensidade.

O minimalismo costuma ser associado à modernidade silenciosa; já o maximalismo, ao excesso criativo. O que essa estética oferece como alternativa cultural para o estado que pulsa a diversidade?

“Aquela famosa frase ‘menos é mais’ para mim não cabe. Para mim, sempre o menos vai ser menos e o mais sempre vai ser mais. Acredito sempre que o correto é o limite do comportar de se comportar. Muitas vezes, é facilmente ultrapassado no maximalismo; já no minimalismo, é mais fácil de você contornar isso. O cuidado que nós temos que ter, eu acho que é esse fino limite da criatividade excessiva; ela pode dar aquele entulhamento. Um entulhado compulsivo. E temos que ter muito cuidado, já que vivemos isso num estado que temos grandes opções artísticas e culturais. Se Deus quiser, cada dia mais, que esse linear não seja ultrapassado. E daí, muitas vezes, esse excesso de opções fica mais fácil e mais factível, o nosso erro.”

A exuberância pode ser virtude, mas também desafio. Como encontrar o ponto de equilíbrio entre a intensidade do maximalismo e a serenidade do conforto?

“Essa é uma grande questão que separa quem tem o dom e quem quer tê-lo. Eu acredito que muitas pessoas nascem com ele, mas também a gente pode aprender, lógico, estudando. Se dedicando, você consegue ter esse dom da criatividade, essa mágica de criar com poesia e organizar tudo isso num ambiente. Encontrar esse ponto de equilíbrio é mais difícil, porém também é o mais admirável no maximalismo. Quando você cria com excesso, um único bloco cênico, onde separadamente nada fala com nada e, quando todos eles juntos, um conversa com o outro numa harmonia única. Esse linear, essa equação, é o que é difícil resolver com exagero, mas também é o mais fascinante no maximalismo. Só que a gente nunca pode esquecer do conforto. Não é só o conforto visual que a gente tem que buscar, desse complemento visual que uma peça fala com a outra. Mas a gente também tem que ter o conforto físico em todas as ambientações que a gente cria.”

Suas criações já ultrapassam as fronteiras do Brasil e chegaram até Dubai. O que significa para você essa internacionalização do trabalho e como o maximalismo dialoga com os públicos de diferentes culturas?

“Eu sou descendente do povo árabe. E o árabe tem na sua essência esse excesso, esse excesso cultural, esse excesso arquitetônico e artístico. E, quando eu ingressei com o meu trabalho nos países do Oriente Médio, foi quase como o filho voltando para casa. Fui recebido de braços abertos, eu retornando às minhas origens. Então, a minha arte, o meu estilo arquitetônico, foi muito assertivo porque eu já trabalhava com esse excesso, com essa exuberância. E os árabes já têm isso no aspecto cultural deles, e isso já faz parte do meu estilo. Então, foi muito tranquilo para mim criar no Oriente Médio. Está sendo muito tranquilo, pois já é intrínseco à minha natureza e à peculiaridade de tudo que eu faço, que é sempre com bastante exagero, com bastante criatividade e impacto visual, principalmente.”

Em muitas das suas obras, a arte não é complemento, mas o próprio coração. Você sente que o maximalismo foi o caminho natural para unir a arquitetura e a arte em sua criação?

“Bem, eu acredito que eu ia integrar a arte nos meus projetos, mesmo não sendo o maximalismo o meu estilo de arquitetura, porque a arte está na minha vida bem antes da arquitetura. Já faz parte dela desde o início, praticamente da minha vida, pois a minha carreira artística de artes plásticas começou quando eu tinha três anos de idade. Com os três anos de idade, eu pintei meu primeiro quadro. Eu o tenho até hoje. Então, eu tenho certeza que não ia importar o estilo de arquitetura que eu criasse após me tornar arquiteto; a arte seria um ponto fundamental nas minhas obras. Lógico que o maximalismo me dá mais espaço para inserção de tudo que eu crio nas artes plásticas. Com certeza, o maximalismo me proporciona isso.”

Quais são as suas primeiras memórias arquitetônicas e o que despertou em você o desejo de ser arquiteto?

“Bem, eu não me recordo das minhas primeiras memórias arquitetônicas. Eu sou artista plástico bem antes de ser arquiteto. E, na realidade, eu nunca quis ser arquiteto. Meu desejo sempre foi ser artista plástico. Fui fazer arquitetura com insistência da minha mãe. Eu era muito jovem quando eu entrei na faculdade. Eu tinha acabado de fazer 17 anos. E, por ela insistir tanto para que eu fizesse uma graduação e não fizesse só artes plásticas, ela fez com que eu olhasse mais para a arquitetura. Arquitetura ia me dar mais bagagem cultural, ia ampliar meu horizonte nas artes plásticas. E, aos poucos, eu fui cedendo e acabei fazendo arquitetura. E hoje eu vejo que ela tinha razão. Não saberia qual outra profissão que eu faria hoje além da arquitetura. E eu vejo muito a arquitetura no meu trabalho artístico e como eu vejo também muito das minhas artes plásticas no meu trabalho de arquiteto. Então, acho que é uma fusão das duas coisas que eu gosto muito de fazer, que é a arquitetura e as artes plásticas.”

O maximalismo, quando conduzido com poesia e rigor, não é mero acúmulo: é narrativa, é identidade, é manifesto. No caso de Scalise, ele traduz a diversidade cultural de Mato Grosso do Sul em linguagem visual. Seus projetos mostram que a abundância pode ser medida pela harmonia, que o excesso pode se tornar equilíbrio, e que a arquitetura pode ser não apenas abrigo, mas também espetáculo.

No fim, a questão não é escolher entre menos ou mais. É reconhecer que, para certas terras e para certas almas, o mais é, de fato, mais.

Ricardo Pieretti Câmara - Escritor e Cineasta

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