Marcia Regina Martins Alvarenga

Mulher, negra, doutora, pró-reitora, mãe solo... Conheça a história da enfermeira que conquistou o mundo acadêmico.

Senti-me em casa nessa entrevista. É que, logo no início, descobri que ela é de Santos; então, já caímos na gargalhada falando que pão francês se chama “média” e água sanitária é “Cândida”, hehehe! Marcia Regina Martins Alvarenga é uma mulher daquelas que merecem ser chamadas de poderosas. E o mérito é todinho dela. 

Explico: Tem pós-doutorado pela USP, é pró-reitora de extensão e cultura da UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), autora de livros, mãe solo e muitas outras funções e habilidades que você vai descobrir ao ler esta reportagem. 

Não foi fácil chegar até aqui. Nasceu em 1959, em Santos, em uma família de classe média/baixa. O pai trabalhou em um pouco de tudo para criar os filhos; foi feirante, taxista, vendedor, entre outras funções. A mãe trabalhava em laboratório. Nenhum dos pais completou o ensino médio, mas sabiam que, para os filhos evoluírem, essa seria a prioridade. “Eu e meu irmão estudamos em escola particular. Não sei como meu pai pagou, ou se tínhamos bolsa. Mas sei que ele fazia questão de termos o melhor estudo. Na época, eram poucos negros em escola particular. Eu só me lembro de mim, meu irmão e um colega”, lembra Marcia.

A pauta racial sempre esteve presente, mas nunca foi uma grande questão para Marcia. “Ser negro na nossa escola era exceção. Existia racismo sim, mas não lembro de nenhum grande episódio que tenha me marcado. A não ser um caso que minha mãe conta. Estávamos no bonde (sim, eu sou do tempo em que o bonde não era apenas histórico em Santos) e, na viagem, um menino chamou meu irmão de “negrinho”. Ela diz que, para defender meu irmão, eu peguei a mochila do menino e joguei pela janela. Eu não lembro, mas acredito porque meu irmão sempre foi mais quieto, e eu com essa minha personalidade”, conta. 

Marcia passou a infância e adolescência estudando na Baixada Santista. Em 1990, após formada em Enfermagem, mudou-se para a capital paulista, onde entrou para a docência. Fez doutorado e pós-doutorado. 

Em 1999 soube que, em Mato Grosso do Sul, tinha uma universidade nova que estava contratando professores. Mudou para o estudo e foi aprovada como docente no segundo concurso da UEMS. 

Desde então, não parou mais. Alçou novos desafios dentro da universidade, envolveu-se em projetos de extensão, como a criação da “Universidade aberta à melhor idade”, e, em 2015, assumiu a pró-reitoria. “Eu imaginava que chegaria ao doutorado, era uma meta, então eu sabia que ia chegar lá. Mas não tinha pretensão de cargo administrativo. Mas foi muito bom. Está sendo uma experiência positiva”. 

Na vida pessoal, Marcia também se difere da maioria. Nunca quis casar. “Eu brinco com minha mãe, que ela me criou para ser independente, eu sou obediente. Nunca quis casar, mas queria ser mãe”. 

E Marcia realizou mais esse sonho. Adotou sua filha Luana com 5 anos. “Foi tudo muito natural. Um dia comentei com uma amiga que eu adotaria uma criança. Dias depois, ela me liga falando: ‘Conheci a filha que você vai adotar’. A Luana tem atraso mental e teria que passar por tratamentos. A família que estava com ela não tinha condição. O processo de transição de guarda foi tão simples que eu acredito que era para ser mesmo”. 

Hoje Luana tem 36 anos. As duas são companheiras uma da outra. Quando pergunto qual sonho Marcia ainda não realizou, a resposta vem com mais uma de suas risadas gostosas e espontâneas. “Olha, acho que está tudo certo. Já plantei árvore, já escrevi livro, já tive filha. Não tenho do que me queixar”, conclui. 

Pingue-Pongue

Ser professora é: “Aprender, aperfeiçoar e compartilhar, sempre.”

Ser enfermeira é: “Realização, compromisso e estudo”.

Uma grande conquista: “Doutorado e todas suas implicações profissionais”.

Uma paixão: “Cães e pássaros”.

Três objetos sem os quais não fica: “Óculos, chinelos e lenço de papel”.

Uma viagem: “Roma”.

Uma festa: “Meu aniversário de 15 anos”.

Família é: “Segurança e respeito”.

Um sonho ainda não realizado: “Aprender a tocar um instrumento”.

Uma música especial: “Mais uma vez (Renato Russo e Flávio Venturini)”.

O que a faz chorar: “Filmes baseados em história real”.

O que a faz sorrir: “Amigos, família, trabalho, meus cães, o céu, muitas coisas”.

Nas horas de folga eu: “Assisto a filmes...”

Fé: “Nos amigos”.

Esperança: “De que a vida vai melhorar”.

Uma frase: “Faça o melhor na condição que você tem, enquanto não tiver condições melhores para fazer melhor ainda! (Mário Sérgio Cortella).”

Celebrar é: “Estar em família, com amigos e ter a Luana (filha) todos os dias”.

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